Programa usado em casos de alta complexidade com cooperação de testemunhas federais
WASHINGTON, DC (OUTUBRO 20, 2025) – O Visto S é uma das vias menos conhecidas e mais controladas da política migratória dos Estados Unidos. Destinado a estrangeiros que colaboram com investigações federais de grande relevância, o programa é aplicado em situações excepcionais e depende de indicação direta de agências como FBI, DEA ou Homeland Security. A autorização é concedida pelo Departamento de Justiça (DOJ) em número extremamente limitado e com forte controle de acesso. “O programa tem limite anual de 200 vistos para casos criminais e 50 para terrorismo e, na prática, pouquíssimas pessoas recebem esse status a cada ano”, afirma Vinicius Bicalho, advogado licenciado nos Estados Unidos, Brasil e Portugal e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A., ao reforçar o caráter seletivo desse mecanismo.
O visto é voltado a testemunhas e informantes cuja cooperação é considerada estratégica para desmantelar organizações criminosas, redes de tráfico, esquemas de lavagem de dinheiro ou células de terrorismo. Para obter o benefício, a testemunha precisa cooperar formalmente com o DOJ por um período mínimo de três anos. Após esse prazo, se os requisitos forem cumpridos, é possível solicitar o green card. “O S Visa é um mecanismo jurídico reservado para casos específicos, quando a colaboração de uma testemunha estrangeira é estratégica para investigações federais”, explica Bicalho, ao destacar que se trata de um instrumento de segurança nacional e não de política migratória tradicional.
Embora a maioria dos processos ocorra sob sigilo federal, alguns casos históricos revelam como o S Visa foi utilizado de forma estratégica em investigações de alto impacto. Um dos episódios mais conhecidos ocorreu nos anos 1990, quando Salvatore “Sammy the Bull” Gravano, ex-integrante da máfia Gambino, cooperou com autoridades norte-americanas em um processo que levou à condenação de John Gotti, um dos líderes mais poderosos do crime organizado em Nova York. Gravano recebeu proteção especial e residência legal após fornecer depoimentos e informações decisivas, ilustrando a força desse instrumento legal em operações sensíveis.
Segundo dados oficiais, em 2024 foram concedidos aproximadamente 137 vistos S, dos quais 94 resultaram em pedidos de ajuste de status para residência permanente. A taxa histórica de aprovação gira em torno de 70%. O perfil dos beneficiários costuma envolver informantes infiltrados, delatores estratégicos ou testemunhas estrangeiras com papel determinante em investigações complexas. Diferentemente de outros vistos, não há formulário público para solicitação: o processo parte da própria agência federal responsável pela investigação e tramita sob controle direto do DOJ.
A combinação entre sigilo, seletividade e relevância jurídica faz do S Visa uma ferramenta de exceção no sistema migratório americano. Trata-se de um caminho reservado para pouquíssimos casos em que a cooperação de uma testemunha estrangeira tem valor direto para a segurança nacional.