Saída de super-ricos cresce em números absolutos e acende sinal de atenção para quem planeja internacionalizar negócios
WASHINGTON, DC (AGOSTO 29, 2025) – Relatórios internacionais costumam exagerar quando falam em uma fuga de milionários no Brasil. Mas os dados inéditos da Receita Federal revelam uma tendência que merece atenção: ainda que menos de 1% dos milionários deixe o país a cada ano, o número absoluto dessas saídas vem crescendo de forma consistente desde 2022, aproximando-se do recorde histórico de 2017.
Somente em 2025, até agosto, 1.446 milionários formalizaram saída definitiva do Brasil. O dado representa um aumento em relação a 2024 e mostra que, em paralelo ao aumento da concentração de renda no país, mais brasileiros de alta renda vêm buscando outros domicílios fiscais para proteger patrimônio, encontrar segurança jurídica e abrir portas a novas oportunidades de negócios.
Para Vinicius Bicalho, advogado licenciado nos Estados Unidos, Brasil e Portugal e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A., esse movimento está longe de ser irrelevante. “O Brasil vive um paradoxo: nunca houve tantos milionários como agora, mas nunca se viu também um interesse tão alto em diversificar residência fiscal e estruturar negócios fora do país. Esse crescimento gradual de saídas é um sinal claro de que empresários e investidores estão em busca de previsibilidade e competitividade internacional”, afirma.
A análise também encontra respaldo em Fernando Hessel, observador na Casa Branca e no Pentágono, que faz um alerta direto. “O Brasil vive um ambiente de instabilidade política crônica que mina a confiança de empresários e investidores. Esse fator pesa nas decisões de quem tem capital e quer protegê-lo. E há ainda um segundo ponto: a internacionalização de negócios e carreiras. Esse movimento se tornou uma blindagem patrimonial e de receita, uma forma de dolarizar ativos e reduzir a dependência de um cenário doméstico volátil.”
Ainda que a reforma do Imposto de Renda proposta pelo governo não seja suficiente, sozinha, para provocar um êxodo em massa, especialistas reconhecem que ela pode funcionar como catalisador para quem já cogitava mover capital e residência para o exterior. E esse fator se soma a outros elementos, como a instabilidade política e a atratividade de regimes fiscais em países como Estados Unidos, Reino Unido, Uruguai e Portugal.
Na prática, o fenômeno reforça a importância de estratégias bem estruturadas de internacionalização. “É hora de os empresários brasileiros encararem essa tendência com realismo. Não se trata de pânico, mas de planejamento. Quem se antecipa e busca orientação jurídica adequada consegue transformar esse movimento em oportunidade”, conclui Bicalho.
O recado é claro: embora proporcionalmente pequeno, o fluxo de milionários saindo do Brasil em números absolutos é crescente e exige atenção. A economia global está cada vez mais interconectada, e o empresário que não observa esse cenário pode perder competitividade em médio e longo prazo.