Imigração estratégica em um cenário de reindustrialização americana
WASHINGTON, DC (SETEMBRO 29, 2025) – Em meio a tarifas elevadas, tensões geopolíticas e uma política industrial cada vez mais assertiva, os Estados Unidos vivem um momento de “reshoring”, o retorno de fábricas e cadeias produtivas ao território nacional. Essa tendência, impulsionada por incentivos fiscais, subsídios federais e pela busca por menor dependência da Ásia, cria uma nova fronteira econômica para profissionais estrangeiros que desejam se estabelecer no país. De acordo com a Reshoring Initiative, desde 2010 mais de 2,5 milhões de empregos foram recuperados ou criados via projetos de reshoring ou investimento direto estrangeiro, sendo que apenas em 2024 foram anunciados 244.000 novos postos. O valor dos anúncios de investimentos também impressiona: em 2023 somaram cerca de US$ 933 bilhões e, até o final de 2024, esse montante já havia escalado para US$ 1,7 trilhão, evidenciando a força dessa política industrial.
Programas federais como o CHIPS, Science Act e a Inflation Reduction Act são os principais motores dessa mudança. O CHIPS Act destina US$ 52,7 bilhões para estimular a produção de semicondutores, com US$ 39 bilhões em incentivos diretos à manufatura de chips. Desde sua promulgação, a indústria de semicondutores já mobilizou mais de US$ 200 bilhões em investimentos e criou mais de 6.000 empregos de alta qualidade, com meta de triplicar a capacidade de fabricação de chips nos Estados Unidos até 2032. Já a Inflation Reduction Act impulsiona a transição energética, com projeção de gerar mais de 900.000 empregos por ano e aumentar o PIB em quase 1% até 2030. Esses investimentos têm impacto direto na criação de novos polos de trabalho e oportunidades para quem atua em inovação, sustentabilidade e produção de alta tecnologia.
Três grandes setores despontam como focos de atração econômica. O primeiro é a tecnologia de semicondutores e microchips, onde a escassez global revelou a vulnerabilidade das cadeias de suprimento e levou os EUA a investir pesadamente para atrair fábricas de Taiwan, Coreia e Europa, criando um ecossistema que envolve engenharia, pesquisa, logística e serviços de suporte industrial. Em seguida, a energia limpa e a mobilidade elétrica recebem destaque: baterias de lítio, painéis solares, hidrogênio verde e infraestrutura de carregamento elétrico são prioridades para reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Em 2024, os empregos em energia limpa cresceram três vezes mais rápido que o resto da economia americana, e hoje cerca de 3,6 milhões de pessoas já trabalham nesse setor. Por fim, a biotecnologia e a saúde avançada consolidam-se como campo estratégico, pois a pandemia reforçou a necessidade de produzir medicamentos, vacinas e equipamentos médicos em solo próprio, estimulando a expansão de laboratórios, startups e grandes conglomerados que ampliam suas operações e geram novas demandas de inovação e mão de obra qualificada.
Segundo Vinicius Bicalho , advogado licenciado nos Estados Unidos, Brasil e Portugal e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A. , a reindustrialização americana “abre uma janela rara para profissionais estrangeiros que reúnem qualificação e disposição para atuar em setores de alto impacto. É um momento em que políticas públicas e mercado privado convergem para receber imigrantes que comprovem capacidade de contribuir para a segurança econômica do país”. Bicalho destaca que o mercado é o verdadeiro motor dessa transformação e que quem chega com experiência comprovada em inovação, sustentabilidade ou liderança tecnológica encontra um ambiente de negócios favorável, onde a demanda por conhecimento supera barreiras políticas e acelera oportunidades econômicas.
A mensagem é clara: os Estados Unidos voltam a ser uma terra de fábricas e laboratórios, e os imigrantes preparados podem ser protagonistas dessa nova revolução industrial que une incentivo estatal, investimento bilionário e uma busca estratégica por independência econômica.