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Mão de obra imigrante movimenta os bastidores do cinema americano

A indústria cinematográfica dos Estados Unidos vai muito além das estrelas de Hollywood. Nos bastidores, uma força de trabalho composta por imigrantes movimenta cenários, figurinos, produção técnica e logística.
Tempo de leitura: 2 minutos
imigrantes no cinema americano
Fonte: Shutterstock

Política de vistos e impacto econômico estão no centro do debate nacional

WASHINGTON, DC (MAIO 5, 2025) – Enquanto os tapetes vermelhos destacam estrelas e premiações, a verdadeira engrenagem que move a indústria do cinema nos Estados Unidos é, em grande parte, sustentada por uma força de trabalho imigrante altamente especializada. O debate de hoje em Washington reacende a discussão sobre o papel dos imigrantes no setor cultural e os entraves que muitos enfrentam para legalizar sua atuação no país.

Segundo estudo do New American Economy, os imigrantes representam atualmente cerca de 12% de toda a força de trabalho nas indústrias criativas dos EUA, sendo mais de 25 mil atuando diretamente como produtores, diretores, roteiristas, técnicos e artistas. Em áreas como design de produção, efeitos visuais e figurino, a presença de profissionais vindos da América Latina, Europa e Ásia tem sido determinante para o padrão de excelência de Hollywood.

Diversos nomes consagrados da indústria são imigrantes ou filhos de imigrantes. O diretor mexicano Guillermo del Toro, vencedor do Oscar por “A Forma da Água” e “Pinóquio”, é um exemplo notável do talento internacional que encontrou espaço nos EUA. O também mexicano Alfonso Cuarón, diretor de “Gravidade” e “Roma”, e o chileno Pablo Larraín, de “Jackie” e “Spencer”, reforçam essa lista. Na atuação, atrizes como Salma Hayek (México), Lupita Nyong’o (nascida no México, de família queniana), e Ana de Armas (Cuba/Espanha) ilustram como o protagonismo imigrante também se impõe nas telas.

“Esse é um exemplo claro de como a imigração está diretamente conectada à inovação e à identidade cultural dos Estados Unidos”, afirma o advogado Vinicius Bicalho, especialista em Direito Imigratório e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A. “No entanto, há uma lacuna gritante entre o valor econômico desses profissionais e as barreiras migratórias que eles enfrentam.”

A maioria dos imigrantes nesse setor atua com vistos como o O-1 (para habilidades extraordinárias), H-1B (especialistas técnicos) ou através de green cards por mérito. No entanto, o número de solicitações supera amplamente as concessões, deixando muitos talentos reféns de incertezas legais ou explorando rotas alternativas, como o uso de autorizações temporárias ou contratos com estúdios estrangeiros.

A discussão atual no Congresso americano envolve justamente a flexibilização de categorias específicas de vistos para áreas criativas, além de um incentivo à permanência de talentos internacionais formados em escolas americanas de cinema. Para Vinicius Bicalho, “trata-se de proteger o futuro cultural dos Estados Unidos e reconhecer que a arte também é um ativo estratégico.”

Com a aproximação das eleições presidenciais, o tema ganha contornos políticos. Enquanto setores democratas defendem a abertura criativa e cultural, parte da ala republicana insiste em vincular o debate a medidas de segurança nacional. O que está em jogo, no entanto, não é apenas o conteúdo que chega às telas, mas a própria estrutura de uma das indústrias mais simbólicas da América.

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