Apoio à fabricação de semicondutores visa fortalecer a segurança tecnológica dos EUA e atrair mão de obra imigrante especializada em meio a tensões globais
Washington, D.C., 31 de outubro de 2024 – O governo Biden anunciou nesta quinta-feira (31) um aporte de US$ 825 milhões para construir uma nova instalação de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de semicondutores em Albany, Nova York, como parte de uma estratégia para impulsionar a capacidade americana de produção de tecnologia avançada e reduzir a dependência de componentes estrangeiros. Esse movimento ocorre em um contexto de intensificação das tensões globais em torno da fabricação de semicondutores, especialmente considerando que Taiwan é atualmente o maior fabricante e fornecedor global desses componentes críticos.
A dependência dos Estados Unidos em relação aos semicondutores fabricados em Taiwan vem sendo vista como uma vulnerabilidade significativa, especialmente em função da crescente pressão da China sobre o território taiwanês, o que tem gerado preocupações sobre possíveis interrupções na cadeia de suprimentos global de chips. Taiwan é lar de algumas das maiores empresas de semicondutores do mundo, incluindo a TSMC, que responde por grande parte da produção mundial de semicondutores de ponta. A preocupação com a segurança no fornecimento desses chips essenciais para tecnologias que vão desde dispositivos eletrônicos até sistemas de defesa pressionou os Estados Unidos a buscar alternativas internas.
A instalação em Albany será focada na inovação da tecnologia EUV (litografia ultravioleta extrema), essencial para a fabricação de semicondutores avançados. De acordo com o Departamento de Comércio dos EUA e a Natcast, operadora do Centro Nacional de Tecnologia de Semicondutores (NTSC), o projeto representa um marco significativo para garantir a liderança americana em inovação e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros.
“A instalação é um marco fundamental para manter os Estados Unidos na vanguarda da inovação em semicondutores,” afirmou Gina Raimondo, secretária de Comércio dos EUA. Em 2023, Raimondo sinalizou que o governo americano iniciaria uma série de concessões de financiamento com o potencial de transformar a indústria de chips no país, um esforço que muitos questionam por ter sido postergado até agora, apesar das evidências de riscos na dependência de fornecedores estrangeiros.
Além disso, o anúncio vem apenas dias após a administração Biden informar que está finalizando novas regulamentações que limitarão investimentos dos EUA em setores tecnológicos estratégicos na China, incluindo inteligência artificial. As regras, que visam proteger a segurança nacional dos EUA, entrarão em vigor em 2 de janeiro e fazem parte de um esforço para evitar que o know-how americano seja utilizado no desenvolvimento de tecnologias sofisticadas na China, o que poderia comprometer a segurança e a competitividade dos EUA.
“Quebrar a hegemonia de Taiwan na fabricação de semicondutores é essencial para a segurança tecnológica dos Estados Unidos e, na verdade, para a estabilidade global,” afirma Vinicius Bicalho, professor de Direito Internacional e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A. “A dependência de um único país para suprir semicondutores é arriscada, pois coloca toda a cadeia de tecnologia avançada à mercê de tensões políticas e econômicas. Esse tipo de vulnerabilidade afeta indústrias essenciais e sistemas de defesa, portanto, diversificar a produção é um passo estratégico.”
Bicalho também destaca a necessidade crescente de profissionais especializados em tecnologia, especialmente imigrantes qualificados do Brasil. “Os Estados Unidos precisam de talentos globais para desenvolver e sustentar uma indústria de semicondutores robusta. Profissionais brasileiros, conhecidos por sua qualificação e experiência técnica, poderiam preencher lacunas críticas, contribuindo diretamente para a inovação e o avanço tecnológico americano. O incentivo a essa mobilidade de profissionais é uma oportunidade tanto para os EUA quanto para os países de origem desses talentos,” conclui Bicalho.
Fonte: Immigration Report, DHS, Fernando Hessel e Bicalho Legal Consulting P.A.