Setor hídrico movimenta bilhões e atrai profissionais brasileiros qualificados para cargos técnicos e estratégicos
WASHINGTON, DC (ABRIL 16, 2025) – Nos Estados Unidos, a água não é apenas um recurso vital. É também um dos setores mais lucrativos da economia. Com investimentos federais que superam os US$ 55 bilhões em infraestrutura hídrica nos próximos anos, o mercado de água e saneamento tem despertado o interesse de multinacionais, startups de tecnologia ambiental e, cada vez mais, de profissionais imigrantes altamente qualificados, incluindo brasileiros.
Embora a presença brasileira ainda não seja tão numerosa quanto em outras áreas, como odontologia ou estética, há uma atuação crescente de engenheiros sanitaristas, hidrólogos, técnicos e especialistas em gestão de recursos naturais em estados como Flórida, Califórnia e Nova York. Esses profissionais são absorvidos principalmente por empresas de engenharia e consultoria ambiental como AECOM, Jacobs Engineering Group e Veolia North America, que valorizam a formação sólida oferecida pelas universidades brasileiras nas áreas de engenharia civil, ambiental e sanitária.
“É um setor onde o conhecimento técnico tem grande valor, e muitos brasileiros vêm se destacando justamente por trazerem soluções inovadoras na área de tratamento e reúso de água”, analisa Vinicius Bicalho, advogado licenciado nos Estados Unidos, Brasil e Portugal, e CEO da Bicalho Legal Consulting P.A.
As dificuldades do setor nos Estados Unidos vão além da gestão. Elas são também geográficas. Na Flórida Central e Sul, o solo arenoso e poroso, com presença de aquíferos rasos e formações calcárias, impõe sérios desafios à construção de sistemas de esgoto, drenagem pluvial e purificação da água. A inconsistência do terreno compromete a escavação profunda, dificulta o escoamento e aumenta o risco de contaminação de aquíferos, exigindo soluções de engenharia sofisticadas e adaptadas ao contexto local.
Um exemplo recente da vulnerabilidade estrutural foi o furacão que atingiu o litoral da Flórida, especialmente a região de St. Pete Beach, em Tampa, onde todo o sistema costeiro de bombas e fornecimento de água foi severamente danificado. A combinação de ventos extremos, maré ciclônica e areia invadindo as tubulações comprometeu estações de tratamento e redes de distribuição, deixando milhares de moradores sem acesso à água potável por dias. Esse tipo de evento reforça a importância de profissionais especializados na reconstrução e adaptação das infraestruturas hidráulicas, sobretudo em zonas de risco climático.
Para atuar nesse setor de forma plena, é essencial revalidar diplomas e obter licenças profissionais exigidas por cada estado, algo que demanda planejamento e acompanhamento jurídico. Ainda assim, brasileiros com histórico em utilities públicas, órgãos ambientais e projetos de saneamento encontram espaço em universidades, centros de pesquisa e empresas privadas, com atuação em frentes como reúso de água, dessalinização e modernização de redes urbanas.
“Nosso patrimônio aquifero no Brasil nos dá uma base única de conhecimento prático que pode ser muito valorizada aqui nos Estados Unidos. O segredo está em saber como se inserir legalmente, técnica e estrategicamente nesse ecossistema”, completa Bicalho.
Diante da escassez hídrica global e da busca por soluções resilientes, o setor de água nos EUA representa não apenas uma oportunidade bilionária, mas uma porta de entrada legítima e promissora para brasileiros que desejam construir uma carreira sólida no país.