O mercado de imigração nos Estados Unidos atrai não apenas sonhadores, mas também falsos profissionais que ameaçam a integridade de famílias inteiras.
Washington, D.C., 10 de janeiro de 2025 – O sonho de construir uma vida melhor nos Estados Unidos muitas vezes leva imigrantes a confiar suas esperanças e economias a escritórios de imigração. No entanto, o crescimento de falsos advogados e consultores especializados tem colocado milhares de famílias em risco.
Em estados como Flórida, Califórnia e Texas, casos de fraudes envolvendo imigração têm se tornado cada vez mais frequentes. Recentemente, as operações do Fraud Detection and National Security (FDNS), um departamento do USCIS dedicado a detectar fraudes e ameaças à segurança nacional, revelaram a gravidade do problema. No ano fiscal 2023/24, o FDNS conduziu 66.130 investigações administrativas e 5.600 visitas a escritórios suspeitos como parte de seu programa de verificação. Além disso, o sistema de triagem ATLAS realizou mais de 136,9 milhões de checagens em bancos de dados federais para detectar possíveis fraudes.
Esses números refletem não apenas o volume de solicitações de imigração, mas também o alto risco de exploração que cerca o setor. “Estamos lidando com os sonhos de famílias inteiras. O impacto de um falso profissional não é apenas financeiro; é emocional e pode resultar em deportações desnecessárias ou em situações ainda mais graves”, alerta Vinícius Bicalho, CEO da Bicalho Legal Consulting P.A. e professor de Direito Imigratório.
Casos Emblemáticos
Um dos casos mais emblemáticos foi o de Raquel Silva, uma brasileira que entregou suas economias a um falso consultor de imigração na Flórida. Ele prometeu regularizar sua situação migratória em menos de seis meses, mas acabou desaparecendo com mais de US$ 15.000. Raquel, que havia desistido de um processo legítimo por conta da proposta rápida, agora enfrenta risco de deportação.
Outro caso que ganhou destaque ocorreu na Califórnia, onde Jose Garcia, um imigrante mexicano, foi vítima de um “notário” que cobrava US$ 10.000 para um green card. O golpista falsificou documentos e apresentou petições fraudulentas em nome de Jose, que foi detido por autoridades migratórias. A operação resultou em uma investigação federal que descobriu uma rede de falsos profissionais na região.
Mais recentemente, em Nova York, o brasileiro Carlos Almeida foi condenado por operar ilegalmente como advogado de imigração. Ele se apresentava como especialista e cobrava valores exorbitantes de imigrantes brasileiros e hispânicos, oferecendo documentos falsos e instruções fraudulentas. Sua atuação resultou em processos de deportação para vários clientes que confiaram em suas promessas. Os prejuízos causados por Almeida incluem a perda de economias de famílias inteiras, que chegaram a pagar até US$ 20.000 por serviços inexistentes, além de danos irreparáveis aos processos imigratórios de suas vítimas, que ficaram ainda mais vulneráveis às autoridades migratórias.
Os golpes geralmente envolvem a promessa de green cards ou vistos garantidos, com custos que podem variar de US$ 5.000 a US$ 20.000. Em muitos casos, os golpistas são notários públicos ou pessoas sem qualquer licença legal para praticar direito nos EUA, mas que se aproveitam da falta de informação de imigrantes vulneráveis.
“O mercado de imigração é de alto valor agregado e, por isso, é um campo atraente para falsos profissionais”, explica Bicalho. “Mas, ao confiar em alguém sem credenciais verificadas, o cliente está literalmente colocando seu futuro nas mãos de um impostor.”
O FDNS tem intensificado os esforços para combater a prática, mas a responsabilidade também recai sobre os imigrantes, que devem verificar cuidadosamente a licença e experiência do profissional antes de contratar serviços legais. Plataformas como a American Immigration Lawyers Association (AILA) e os registros das Bar Associations estaduais são fontes confiáveis para confirmar a legitimidade de advogados.
No final, a luta contra falsos escritórios de imigração é também uma luta pela preservação dos valores de um sistema justo. “Precisamos garantir que a imigração nos Estados Unidos continue sendo uma ponte para oportunidades, não um caminho para a exploração”, conclui Vinícius Bicalho.